sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008


por Alberto Caieiro ( Fernando Pessoa)

O meu olhar é nítido como um girrasol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...

E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...

Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como um malmequer,
Porque o vejo, mas não penso nele
Porque pensar é não compreender..

O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo da natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

3 comentários:

Tyago de Paula Ferreira disse...

Afinal, estamos doente dos olhos?
"Porque pensar é não compreender..."

Tyago de Paula Ferreira disse...

Blog atualizado!

o/

Tyago de Paula Ferreira disse...

Passe aqui...
beijo!