domingo, 18 de novembro de 2007

Re-significar!


Minha professora, certa vez contou uma experiência aos alunos muito interessante. Era a história do “menino marrom”. Menino marrom porque chegava à escola de trator, junto com mais algumas crianças. Vinham todos pela roça. Seu uniforme era marrom, sua pele, seu tênis gasto, tudo.

Conta a mestre que, num dia de rotina normal em que ela visitava a pequena escola de um vilarejo próximo à cidade de Assis, foi chamada às pressas, pois um pequeno menino, que na época devia ter uns oito anos, chorava há mais de uma hora e ninguém conseguia faze-lo parar.

A professora daquela sala precisou se ausentar depois de receber as crianças e corrigir os cadernos com as lições de casa, pois sua filha estava em casa, febril. Aproximou-se do menino que soluçava, inconsolável. - Você está muito triste. Vou ficar aqui do seu lado até você parar de chorar. Daí, se quiser me contar porque está chorando, talvez eu possa ajudá-lo.

Passaram-se alguns minutos e ele tomou coragem: - Minha professora falou que eu não gosto de estudar e que sou relaxado. O menino tinha dificuldade para falar. Soluçava entre as sílabas.

- Por que ela disse isso? - Porque ela acha que eu não cuido bem do meu caderno.

E, pegando o pequeno caderno, totalmente orelhudo, entregou nas mãos de Rita. Quando ela olhou percebeu o que estava ocorrendo e fez um esforço grande para não emitir julgamentos. De fato aquele caderno marrom, com enormes orelhas e manchado de água suja parecia pertencer a um menino bastante relaxado.

Mas ela segurou qualquer comentário e apenas perguntou: - Por que você está chorando tanto? Você gosta de seu caderno?

- Sim! Eu gosto tanto do meu caderno que levo ele comigo para todo lugar aonde vou! Se tenho de ir levar almoço para meus pais na roça, ele vai comigo; se vou brincar na mangueira, também! Nunca largo dele. Só largo à noite, para dormir. Daí penduro o caderno no varal.

- No varal?

- É. No meu quarto tem um varal, pois é o único lugar onde o rato não pega. Em casa eu durmo de sapatos, tia, pois os ratos mordem meus dedos.

Rita compreendera o que estava acontecendo ali. Precisou segurar o seu próprio choro, desta vez. Era uma violência simbólica - a professora, ao ver o caderno sujo e com orelhas julgou o menino, dizendo que ele não gostava de estudar e era relaxado, quando na verdade era exatamente o contrário: por excesso de cuidados é que aquele caderno estava daquela forma.Então ela ajudou o pequeno a encapar o caderno, deu-lhe um beijo e perguntou se ele queria que ela conversasse com a professora sobre aquele acontecido. O menino respondeu afirmativamente. Rita explicou à professora todos os detalhes e, com lágrimas nos olhos, pediu que ela compreendesse a verdade.

Fica à nós o alerta para que tomemos cuidado com os julgamentos. Precisamos procurar conhecer algo ou alguém com profundidade, para não tirarmos conclusões precipitadas, e a qualquer momento podemos estar ferindo alguém com palavras vazias ou argumentos infudados.

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